Conheça os oito mandamentos para investir em aplicativos
Não basta ter um celular na mão e uma ideia na cabeça para fazer um aplicativo de celular ou software para computador. É preciso planejar, investir e testar. Não existem fórmulas mágicas de sucesso, mas algumas dicas podem ajudar quem pretende se aventurar nessa área.
O primeiro passo é saber se a sua ideia é boa – ou seja, se mais alguém, além de você, procura solução para este problema específico – e quantas pessoas estariam dispostas a pagar pelo que você tem a oferecer. “Não existe como saber se uma ideia é boa se ela não for testada” credita o presidente do Sebrae Nacional, Luiz Barretto. “Uma boa dica é sair do escritório e ir para as ruas validar o projeto com potenciais clientes. Se para eles essa ideia também for boa, será um sinal interessante. Além disso, esses contatos podem ajudar a aprimorar a criação. Entender e atender as necessidades dos clientes é fundamental”, completa.
Foi exatamente isso o que fez Tallis Gomes, co-CEO da Easy Taxi, quando decidiu criar o aplicativo localizador de táxi. A ideia veio depois de ficar mais de uma hora esperando um táxi no Rio de Janeiro e, para saber se ela era viável, foi direto à fonte. “Perguntava para as pessoas na rua se elas usariam um aplicativo localizador de táxi”, lembra.
O segundo passo é determinar para quem esse aplicativo ou software será destinado. No mapeamento de mercado, os alvos são definidos e prospectados. No caso de outro aplicativo, a software Clinp, desenvolvido pela empresa K2 em parceria com a consultoria empresarial ADM S.A., a necessidade foi verificada antes mesmo do surgimento da ideia. “De início definimos que o alvo eram as clínicas médicas e odontológicas de pequeno porte por este ser um mercado mal atendido por sistemas”, explica Daniel Kist, sócio-diretor da K2.
Os alvos eram pequenos estabelecimentos tanto em Florianópolis, área de atuação das empresas, quanto no interior de Santa Catarina. A função do software é integrar todas as informações do funcionamento da clínica em um único lugar. Isso moderniza o agendamento de consultas e facilita o tráfego de dados entre clínicas da mesma rede.
O desenvolvimento e a comercialização de um software para computador, como é o caso do Clinp, têm algumas especificidades em relação a um aplicativo para celular. O sistema pode ser vendido para diversos clientes através de uma loja virtual ou ser exclusivo para um único cliente. Além disso, é preciso decidir se ele funcionará online, offline ou de maneira mista, ou seja, se vai funcionar na internet ou na intranet.
O terceiro passo é o planejamento operacional do processo. Nesta etapa são decididos os pontos essenciais para o lançamento e o funcionamento do sistema, como quantas pessoas serão necessárias para realizar o trabalho e quanto tempo o processo vai levar. Esta fase está intimamente ligada ao planejamento financeiro. “Se o cliente tem muita urgência para a entrega do trabalho, colocamos mais gente na equipe e fazemos a entrega de uma vez, mas isso custa mais. Se tem mais tempo, há menos gente na equipe, mas as entregas são mais frequentes”, afirma Kist. O processo é bem mais complicado do que parece. Só para se ter uma ideia, o software Clinp foi concluído após 15 meses de trabalho e o aplicativo Easy Taxi, após sete meses.
A quarta etapa diz respeito ao plano de negócios, que analisa o mercado em que o software ou o aplicativo pretende entrar, os concorrentes, os possíveis investidores e os riscos que o investimento pode trazer. Outro objetivo do plano de negócios é vislumbrar o futuro da empresa a curto, médio e longo prazo. Isso significa adiantar uma projeção de crescimento, tempo de retorno do investimento, lucros, gastos e metas a serem atingidos nos próximos anos.
Rodrigo Moura Gonçalves, diretor de TI da ADM S.A., sócia do Clinp, conta que o processo para elaborar o modelo de negócios foi bem dinâmico. “Tínhamos um prazo curto e fizemos o plano em pouco mais de um mês. Eram realizadas reuniões praticamente diárias para ver se o que a gente estava escrevendo era palpável”, conta. “O plano ainda tem a finalidade de servir como uma apresentação da companhia a investidores ou parceiros, que terão uma visão mais clara de como essa marca quer se posicionar no mercado e que vantagens terão em se associar a ela”, acredita Barretto.
No quinto passo, o empreendedor deve encontrar alguém para “rachar a conta”, ou seja, para investir na iniciativa. “Desenvolver hoje um sistema com qualidade é muito caro, é difícil tentar bancar se não tiver investimento”, afirma Kist. Existem duas opções de financiamento mais usadas por empresas estreantes ou startups: o crowdfounding e os investidores-anjos. O crowdfunding é uma espécie de “vaquinha”, em que várias pessoas físicas que se interessam por projetos de diversas naturezas – como empresarial, político ou cultural – se unem para bancá-lo. Os investidores-anjos são pessoas físicas ou jurídicas que possuem recursos para investir em novas empresas com potencial de desenvolvimento.
“O Sebrae também pode dar orientação no que diz respeito às finanças, tanto em apontar prováveis fontes de recursos como em oferecer a chamada educação financeira”, explica Barretto. Isso evita a contração de dívidas e permite que o capital seja aproveitado durante todo o processo de criação e implementação e que o projeto saia do papel sem problemas.
A sexta etapa é a de desenvolvimento, testes e criação de um protótipo. Durante o desenvolvimento são decididos os recursos, o modo de funcionamento e o visual do sistema. Para isso é necessário o trabalho conjunto de vários tipos de profissionais: programadores, que definem o funcionamento do programa; designers, que desenham a interface; técnicos de sistemas operacionais, que preparam o ambiente para o programa rodar; administradores de banco de dados (DBA, na siga em inglês), responsáveis por escolher o modelo e garantir a integridade do banco de dados; e arquitetos de sistemas, que fazem as pontes entre cada especialidade.
Essa equipe vai desenvolver o protótipo, que é a primeira versão do programa. “Construir um protótipo é a melhor maneira de saber se uma ideia realmente funciona. Depois que ele estiver pronto, vale a pena colocar em uma loja de aplicativos para medir os resultados”, acredita Tallis Gomes. Isso é positivo porque você tem diferentes grupos de amostragem analisando o produto e detectando defeitos no funcionamento e na interface – o visual do programa na tela do celular.
Assim, o desenvolvedor pode deixar o sistema com uma cara que proporcione uma navegação amigável e um funcionamento eficiente. Depois dos testes com pessoas aleatórias nas lojas de aplicativos ou com clientes específicos no caso de um software exclusivo, é possível ainda reposicionar botões e mudar as cores da interface, de acordo com o feedback geral dos usuários. “Durante os testes continua a etapa de desenvolvimento. Assim que os testes terminam, o software vai para a comercialização”, explica Kist.
O sétimo passo no negócio de aplicativos e softwares é a venda e distribuição do produto. No caso dos aplicativos, uma loja online funciona de acordo com o sistema operacional do smartphone. Os exemplos mais conhecidos são Windows Phone, App Store (Apple) e Play Store (Android). O consumidor encontra o produto por busca de palavras-chaves ou segmento de mercado. Geralmente, as lojas exigem que os aplicativos tenham certas especificações técnicas. A partir daí, basta criar uma conta e colocar à venda. No caso de um software, pode ficar à venda online ou funcionar com pagamento de mensalidade. A divulgação por meio de anúncios online ou em redes sociais é o principal caminho para que o produto chegue a quem interessa.
O oitavo e último passo diz respeito à atualização e manutenção do produto. Isso garante que ele seja compatível com a evolução de navegadores e hardwares em geral e esteja sempre de acordo com aquilo que o consumidor procura. De acordo com Kist, além de necessário, o processo de manutenção vai ficando mais barato ao longo do tempo. “Se você tem sete pessoas trabalhando na programação para lançar a versão alfa do sistema, terá cinco quando ele já estiver online, depois, três que irão resolver bugs e manter a atualização visual e operacional.”